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Como pensam as pessoas que vivem e respiram inovação nos EUA

Como pensam as pessoas que vivem e respiram inovação nos EUA
Como pensam as pessoas que vivem e respiram inovação nos EUA

Polo de produção em ciência, inovação e tecnologia investe em generosidade e diversidade para manter sucesso, apontam especialista.

As empresas que compõem o Vale do Silício, polo de desenvolvimento tecnológico e inovação, localizado na Califórnia, nos Estados Unidos, vêm se recuperando da crise causada pela pandemia de forma mais rápida e efetiva que o restante da economia mundial. Isso não se deve a mera sorte: é a partir das mentes que habitam essa pequena região que o mundo se transforma e se reinventa. Em uma época como esta, em que reaprender é fundamental, o local se destaca.

Mas qual o segredo do Vale do Silício? Quais são os componentes que fazem com que este local reúna os cérebros capazes de forjar as soluções, e antecipar as tendências que estaremos inseridos no futuro? Natasha Caiado Castro, CEO da Wish International, e especialista em Inteligência de Mercado e em conectar pessoas e empresas do Vale, afirma que não há resposta fácil para essa pergunta, mas alguns caminhos podem ser apontados a partir de sua experiência trabalhando com as grandes empresas e mentes de lá:

“A generosidade é uma das características que moldam a forma de pensar de quem trabalha e pensa por aqui. É um local que abrange diversidade e, com isso, diferentes formas de ver o mundo e pensar. Você tem grandes mentes disruptivas em um pequeno espaço, ou seja, consegue reunir a nata do pensamento de todo o mundo, o que vai gerar isso: soluções fora da caixa, inovadoras e que mudam o planeta”, explica.

Outro ponto levantado pela especialista é que, pelo Vale do Silício, fracasso não é sinônimo de algo ruim, mas de novas oportunidades. “É o que sempre dizem por aqui: se você ainda não fracassou é porque não tentou o suficiente. Todos estão sempre trocando ideias e se fortalecendo e do erro de um pode surgir uma ideia para algo inovador”, comenta.

E claro que há aspectos práticos para que a vida pudesse ser retomada mais rapidamente por lá, conta Natasha. A vacinação em massa e o respeito às medidas de isolamento foram algumas delas. E também é aí que vemos o “espírito” desses negócios: “A capacidade de adaptação rápida, de ajustes a mudanças e busca por respostas e alternativas está no DNA dos empresários, trabalhadores e moradores daqui”, comenta.

Diversidade e sucesso

Quem assina embaixo dessas características apontadas por Natasha é Rich Miller, CEO da Telemática, empresa de consultoria em tecnologia e estratégia de negócios localizada no Vale do Silício: “Inovação não é apenas tecnologia. A inovação necessária para manter o Vale vivo depende fortemente de novos modelos de negócios e de novas abordagens e a diversidade cultural desempenha um grande papel no sucesso daqui”, afirma.

Ele também destaca as mudanças causadas pela Covid-19 no cenário mundial: “A Covid acelerou a confiança de empresas em novas formas de comunicação em rede e ciência de dados. É aplicável à biologia, tecnologias médicas ou genômica, assim como às empresas de tecnologia empresarial e de consumo de alto nível”, explica.

Capital intelectual e reinvestimento

Bret Waters, professor de empreendedorismo em Stanford e investidor profissional em diversos segmentos de negócios, concorda com Natasha, da Wish: a capacidade dos agentes que trabalham no Vale do Silício de se reinventar ensina a importância da “cultura do reinvestimento”.

“Reinvestimento de capital financeiro e reinvestimento de capital intelectual. Aconteceu quando Leland Stanford decidiu pegar todo o dinheiro que ganhou como empresário e investi-lo na criação de uma grande universidade. Aconteceu quando um garoto de 16 anos chamado Steve Jobs ligou para Bill Hewlett (da HP) e pediu algumas peças de reposição e um emprego”, exemplifica. Aconteceu quando os fundadores do PayPal pegaram os US $1,5 bilhão que conseguiram do eBay e, em vez de se aposentar, financiaram e/ou fundaram o Yelp, LinkedIn, Tesla, Facebook, SpaceX e um monte de outras empresas”.

Mais rápido do que nunca

Não é só a capacidade de reinvenção que mostra a resiliência do Vale do Silício. Para Edward Leaman, um dos maiores especialistas em branding do mundo e professor da Universidade de Stanford, a velocidade com que o Vale muda e se adapta de forma eficaz e inovadora, é o que permitiu que as empresas da região conseguissem continuar produzindo o que fazem de melhor.

“O Vale do Silício nunca parou durante o Covid-19. Reagiu à pandemia aumentando a velocidade da inovação, flexibilidade, adaptação e resiliência, trazendo para o presente o que parecia no futuro. O Vale do Silício possui uma incrível inteligência e visão sobre como criar um mundo melhorado por meio do empreendedorismo é um lugar que mantém a tensão em torno disso, recompensando a vitória incrivelmente bem”, analisa.

Construir com pessoas

Construir com o cliente e não para o cliente. Diversidade de pessoas e ideias. A abertura que as empresas do Vale do Silício sempre deram para todos, desde colaboradores até estudantes e empresários, é um dos alicerces que explicam o seu sucesso, afirma Felipe Lamounier, da Startse, e Head de Operações internacionais, além de responsável de operações no Vale do Silício, China, Israel, Portugal, e outros países fora do Brasil.

“Eu sou formado em Computação, e aqui é a Meca da tecnologia. Todo mundo ligado a essa área quer estar e conviver com esse lugar, e estar entre os melhores do mundo nessa área. Antes de vir para cá, a minha cabeça era muito voltada para tecnologia, o que eu conseguiria desenvolver do ponto de vista tecnológico, técnico, hard skills, etc. e quando eu cheguei aqui o que mais me surpreendeu foi a forma como as pessoas, os empreendedores, pensam e agem. O que eu aprendi no Vale com as pessoas é envolver o cliente na construção do seu produto desde o primeiro dia, construindo junto com ele e fazendo melhorias incrementais a partir dos feedbacks posteriores à construção”, detalha.

Hoje à frente de uma das maiores Venture Capital do Vale do Silício, ele diz: se você tem vergonha da primeira versão do seu produto é porque você lançou o seu produto tarde demais. Esse é o mindset, (…) um dos grandes ensinamentos”.

Uma boa obsessão

“O Vale tem me ensinado a importância de ser obcecada por atingir uma experiência de cliente excepcional. Atingir isso passa por se reinventar o tempo inteiro tendo um growth mindset, uma atenção incrível aos detalhes e continuamente sonhar grande.

Este local ensina que o impacto que você pode ter no mundo é uma função do nível de esforço que você e o seu time colocam ao longo de anos de estudo e dedicação para uma causa”, Mirelly Vieira de Moraes, CEO e cofundadora da Verbena Flores.

Nunca foi sorte

“Você pode achar que as histórias de Elon Musk, Jeff Bezos, ou outros empreendedores menos conhecidos, aconteceram por acaso ou por sorte. Mas não existe over night success, mágica ou sorte. Todas as histórias de sucesso ocorrem depois de anos de obstinação e dedicação pura a um objetivo. A grande vantagem do Vale é que ele agrega dezenas de milhares de pessoas com esse nível de work ethic e criatividade empresarial, criando um ambiente de alta performance e inovação onde essas conexões e sinapses se potencializam”, avalia Antônio Ermírio de Moraes Neto, CEO e cofundador da XP Health.

Pensar grande não é arrogância

“O Vale do Silício nos ensinou que pensar grande não é arrogância e que somos capazes de construir coisas incríveis. Aprendemos que não há limite para a criatividade humana e isso só é possível porque aqui existem todos os recursos necessários para inovar. O Vale tem o mais poderoso ecossistema de empreendedorismo do mundo”, comenta Alexandre Hadade, CEO da Birdie, Board Member da Privalia e da Arizona, Endeavor Entrepreneur.

A diversidade de pensamentos e o ambiente de negócios também são pontos levantados pela palestrante Giuliana Hadade, da Betafly Brandmakers: “Aqui o que mais importa é o que você está construindo e não qual roupa você usa, ou qual carro está dirigindo, ou o tamanho da sua conta bancária. A competição aqui é muito grande e lidar com a pressão é necessário para a saúde mental e física”.

É o conjunto desses valores, explicitados por quem está no Vale, que faz deste local único no mundo, resume Natasha de Caiado Castro, da Wish International, empresa cuja missão é também unir esses cérebros. “É um ambiente que une o que há de melhor no mundo em termos de negócio, inovação e tecnologia: diversidade, valores, ambiente de competição de alto nível e abertura para novas ideias e mentes. Não há nada parecido por aí e, por isso mesmo, há grandes lições a serem aprendidas”.

*Fundadora e CEO da Wish International, especialista em inteligência de mercado, Content Wizard e Investor. É também Board Member da United Nations e do Woman Silicon Valley Chapter.

(Os artigos e comentários não representam, necessariamente, a opinião desta publicação; a responsabilidade é do autor do texto)

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