Autor: Claudio de Brito Neri*

Recentemente, as ações tomadas pelos Estados Unidos fizeram com que a analogia de um jogo de xadrez para se referir à disputa Geopolítica se tornasse efetivamente uma realidade.

Os tarifaços dos Estados Unidos tiveram efeitos sobre diversos parceiros comerciais de forma indireta, mesmo que o objetivo central fosse atingir os produtos chineses. Com uma jogada decisiva no jogo de xadrez global, o discurso de Washington de que é necessário proteger a indústria nacional e, ao mesmo tempo, impedir o avanço tecnológico chinês serviu para justificar a utilização de barreiras comerciais como arma de uma batalha estratégica.

O grande problema é que a disputa entre as duas maiores economias do mundo atinge todos os continentes fazendo com que os principais atores do “jogo geopolítico”, China e Estados Unidos, tenham que readaptar suas estratégias de relacionamento com a América Latina, Ásia, África e Oceania.

Ao aumentar as tarifas, os norte-americanos intensificaram a disputa com a China, porém, essa ação causou o aumento dos custos de importação dos países intermediários que exportam insumos e fazem parte da cadeia de produtos chineses. Isso afetou de forma colateral as relações com países da América Latina, Sudeste Asiático e Oceania, que são exportadores de matérias-primas, peças e produtos agrícolas para China e os Estados Unidos.

Na América Latina, países como México e Brasil, tradicionais parceiros comerciais dos EUA, são fortemente pressionados a um alinhamento mais profundo a Washington, principalmente em questões de segurança e tecnologia. Esse tipo de posicionamento pode ter como consequência retaliações comerciais da China, o que pode representar um fechamento de mercados alternativos a esses países.

Há, na Ásia, uma exaustão quando o assunto é negociação tarifária com os Estados Unidos, principalmente no Sudeste Asiático, onde os norte-americanos perdem cada vez mais o espaço de influência. Países como Vietnã, Indonésia e Malásia, que poderiam levar vantagens sobre a China como plataforma exportadora, enfrentam uma instabilidade econômica causada indiretamente pelas tarifas.

Os países africanos, mesmo que não sejam os alvos diretos das tarifas, tendem a ter um impacto considerável, afinal, muitos exportam commodities para a China. Com a tarifação, o país asiático se vê obrigado a diminuir os investimentos na infraestrutura africana.

Já na Oceania, as tarifas norte-americanas afetam diretamente a Austrália e a Nova Zelândia, que mantêm alianças militares com os Estados Unidos e são forçadas a tomarem posições firmes em questões relacionadas à China de quem dependem economicamente.

Diante de todo esse cenário, a China está readequando suas estratégias para aumentar a sua influência no Sul Global. Ao interpretar as tarifas americanas como um ato de guerra econômica, o objetivo de Pequim é ganhar aliados e contornar o bloqueio americano.

A China já é o principal parceiro comercial de Brasil, Chile, Peru e Argentina. O efeito da tarifação de Washington é que Pequim intensifica suas ações comerciais na região da América Latina, compra mais soja, minério e petróleo da região, financia infraestrutura e oferece alternativas tecnológicas. Sob o discurso de uma “cooperação mútua” e “não intervenção” seduz os governos latino-americanos, que buscam diversificar suas parcerias.

Observo, no entanto, que as tarifas estadunidenses funcionaram como catalisador de uma multipolaridade cada vez mais urgente na economia global. Ao contrário do que esperava os Estados Unidos, a ação causou uma mudança em vários fluxos comerciais, tendo efeito até na diplomacia internacional. Ao aumentar as tarifas não houve apenas o isolamento da China, mas um afastamento de aliados reorganizando cadeias globais de valor.

Para América Latina, África, Ásia e Oceania, a multipolaridade deixa de ser um projeto distante para se tornar uma necessidade urgente, a dependência comercial de grandes potências representa um risco que não vale mais a pena correr. No novo tabuleiro global, as tarifas americanas não são apenas uma jogada de defesa, são também um sinal de que a ordem mundial está mudando e os países do Sul Global precisarão jogar com mais astúcia do que nunca.

*Professor de Geografia do Colégio Mackenzie Tamboré

Edição 345 - Maio de 2025 — Edição 345 – Maio de 2025

Newsletter MercadoComum - Economia, Mundo Empresarial, Opinião e outros....

Rota

Newsletter MercadoComum - Economia, Mundo Empresarial, Opinião e outros....

Rua Padre Odorico, 128 – Sobreloja São Pedro

Belo Horizonte, Minas Gerais 30330-040

Brasil

Telefone: (0xx31) 3281-6474
Fax: (0xx31) 3223-1559
Email: revistamc@uol.com.br
URL: https://www.mercadocomum.com/

Domingo	Aberto 24 horas
Segunda	Aberto 24 horas
Terça	Aberto 24 horas Abra agora
Quarta	Aberto 24 horas
Quinta	Aberto 24 horas
Sexta	Aberto 24 horas
Sábado	Aberto 24 horas