Autor: Sergio Augusto Carvalho

Está circulando no Congresso Nacional um Projeto de Lei muito polêmico: muda a categoria dos cogumelos produzidos no Brasil para excluir o produto da lista de tributação reduzida na categoria de hortaliças. Passariam a fazer parte de uma lista de itens não essenciais para a alimentação do brasileiro. 

Isto significa que a bandejinha de champignon de Paris que custa em torno de R$15,00 passará para até R$20,00. Você, que de vez em quando usa cogumelos em suas aventuras domésticas na cozinha, pode até não sentir o impacto (R$5,00) dessa medida. Mas se você pesquisar o que um aumento desse calibre tem a ver com quem é usuário constante e a produção de cogumelos, aí a coisa muda de figura.

Toda dificuldade que um produtor de cogumelos (Paris, Shiitake, Shimeji, Hiratake, Portobelo, Cantarelo, Salmão, Enoki, Lactarius, Foliota, Ostra, Juba de Leão,  Orelha de Pau, Cogumelo do Sol, etc.) tem de vencer para abastecer o mercado será aumentada com essa lei que já está aprovada na Câmara e já foi enviada para votação no Senado. O aumento é de 26,5% do imposto o que pode gerar uma reação maior no preço final, segundo calculam os dirigentes da Associação Brasileira dos Produtores de Cogumelos (ABPC). 

São Paulo, o maior produtor do país, já está se agitando com a possibilidade de ver muitos de seus fornecedores abandonando o cultivo para evitar os danos comerciais que podem acontecer. Os Produtores da Fungoshop de SP já alertaram: “Nós já operamos com margens de lucro muito apertadas; um aumento desses tornaria o mercado insustentável”. 

Os brasileiros estão começando a aceitar o cogumelo como uma iguaria de qualidade tanto pelo sabor quanto pelo seu valor nutritivo. O crescimento nas vendas alavanca a produção e os cozinheiros profissionais agradecem, pois o seu uso na cozinha só traz benefícios para quem conhece suas propriedades. 

Não é só na mesa que dá para sentir o valor do cogumelo. A indústria farmacêutica já é uma grande consumidora de várias espécies com qualidades medicinais – excelente no controle da hipertensão e do colesterol.  

No mundo, o comércio de cogumelos movimentou, em 2023, US$ 50 Bilhões! E há uma expectativa de dobrar essa cifra em 2024. No Brasil, o setor ainda está se organizando e não há uma estimativa do movimento que o comércio gera por ano. São Paulo é o estado mais adiantado com mais de 550 produtores. E cresce, anualmente, 9%.

Quem mais vai sofrer com o aumento nos Impostos são os pequenos e médio produtores, que representam 75% do mercado brasileiro. O cogumelo passou a fazer parte da mesa de refeições do brasileiro na última década, acompanhando um aumento de, aproximadamente, 10% ao ano na produção e 20% no consumo do produto. Antes, apenas as colônias orientais, que começaram a desembarcar no país na primeira metade do século passado, usavam os cogumelos em sua alimentação e no tratamento de certas doenças. Dizem que esse atraso é culpa dos portugueses, que nunca deram muita importância para os fungos.

Os cogumelos encontrados nos mercados e mercearias em bandejinhas de, aproximadamente, 200 gramas, substituíram com infinita vantagem os que eram encontrados em conservas embalados em vidros ou baldes. Estrela do Stroganoff – de filé, frango ou camarão – o Champignon de Paris passou a ser usado numa relação imensa de receitas, pelo seu sabor e categoria repassadas para os pratos. Além disso, nos poupou de mastigar aquele cogumelo horroroso dos vidros e baldes. 

Hoje, a produção de cogumelos no Brasil atingiu um nível alto, mas não chegou ao esperado pelos empresários do setor. Para se ter uma ideia, a produção Mundial em 2023 atingiu números incríveis, em toneladas:

 

China  5.008.850 

Itália 761.858 

EUA 390.902

Holanda 304.000

Polônia 198.235

Espanha 148.000

França 115.669

Canadá   78.930

Reino Unido   69.300

Irlanda   67.063

No Brasil, não chega a 20.000 toneladas/ano.

Anos atrás, o governo federal deu um impulso na fungicultura nacional ao elevar a taxa de importação dos produtos, em especial, chineses. Isso resultou, principalmente em São Paulo, no aumento da produção e oferta de empregos, que atingiu a 320.000 vagas. Em busca dos seus objetivos principais, agora o trabalho da ANPC é transformar o reconhecimento do setor como “fungicultura”, e não “olericultura” (verduras e legumes) como é atualmente. 

Paralelamente, o crescimento do interesse pelos cogumelos aumentou tanto que, no Paraná, produtores rurais já estão se aventurando a cultivar uma das iguarias mais raras do mundo, a trufa branca (tartuffo bianco) e a preta. Sabe-se que a trufa não tem propriedades que proporcionem uma germinação natural e é encontrada apenas em certos terrenos na Itália onde predominam florestas de carvalho centenárias. 

Com esse projeto de lei, revemos a velha mania que algumas pessoas (geralmente idiotas) em nosso país têm de criar obstáculos para o sucesso de alguém.

sérgioamc@uol.com.br

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