Todos aprendemos que nas crises é que se ganha dinheiro. A atual crise americana não é diferente. Vamos então aos fatos. Segundo recente pesquisa feita pelo National Federation of Independent Business, publicada pelo Tampa Business Journal, 55% das pequenas empresas afirmaram que as condições de negócios são boas na Flórida. Os quatro principais problemas enunciados por elas, para melhor desenvolvimento dos negócios foram: a competição das grandes corporações, seguro, inflação ou aumento de preços e qualidade e custo dos empregados. Nenhuma delas mencionou o déficit público norte-americano.
A pesquisa revela que o desemprego encontra-se localizado mais nas minorias afro-americanas e junto a jovens de menos de 28 anos, mais especificamente junto aos recém-formados. Como qualquer análise mais profunda vai mostrar, os empregos perdidos não voltarão pelo menos a curto prazo, pois estas posições deixaram de existir.
A economia global foi mudando e o sistema educacional americano, dominado pelos sindicatos retrógados, não deixaram que os currículos fossem atualizados, para que os professores não tivessem que se preocupar com sua própria preparação e hoje existem milhões de jovens que perderam anos estudando matérias sem nenhuma utilidade para os tempos atuais. Estas pessoas e a maioria dos milhões que perderam seus empregos seguirão sendo sustentados pelos que trabalham, via governo, que pouco ou nada tem feito para sua reciclagem profissional.
Vejo que não se pode esperar muito até o final do próximo ano para que esses problemas sejam resolvidos. O atual presidente encontrou o país com uma dívida superior a 50% do PIB, duas guerras em andamento e com toda uma celeuma em relação ao aumento dessa divida pública, que acabou por impedir expandi-la acima de certos níveis e, ademais, o país deverá terminar o ano com o déficit público em torno de 12% do PIB-Produto Interno Bruto.
O presidente Obama não tem como reclamar do Congresso, pois por dois anos teve-o sob seu controle, gastou trilhões e não gerou emprego, pois a aplicação dos recursos públicos, no meu ponto de vista, foi equivocada. Por outro lado, observa-se que as grandes empresas vão muito bem. Muitas delas se encontram altamente capitalizadas, competitivas e enxutas em termos de pessoal.
Tanto as grandes, como as médias e pequenas, que se dedicam à exportação, estão se saindo razoavelmente bem. Sabe-se que o presidente Obama prometeu duplicar as exportações americanas em cinco anos e os órgãos públicos como o EximBank, assim como as entidades privadas, estão altamente empenhadas neste mister.
Em 2009 os EUA exportaram U$ 1.056.044,0 milhões e em 2010 elas saltaram para U$ 1.278.264,0 milhões. Até junho deste ano já exportou U$ 725.389,0 milhões. A tendência é que neste ano as exportações norte-americanas alcancem U$ 1,5 trilhão.
A queda do valor do dólar tem sido uma relevante alavanca para fazer com os produtos americanos aumentem sua competitividade, somados a outros fatores como a liberdade de empreender, baixos juros, logística barata e eficiente, alta tecnologia etc. Hoje um carpete americano de alta qualidade entra no Brasil mais barato do que no mercado doméstico e também chegam ao consumidor em espaço de tempo bem mais reduzido.
Dezenas de outros setores estão na mesma situação e assim seguirão, principalmente enquanto o Brasil não resolver o chamado “Custo Brasil” e o real seguir sobrevalorizado. Porém, este não é um fenômeno que ocorre apenas com o Brasil que passa por uma política de desindustrialização. Os EUA aumentaram sua exportação em 25% neste ano para a Argentina e em cerca de 20% para o mundo em geral. E este é apenas um dos vários segmentos favoráveis aos que querem entrar nos EUA e aproveitar as suas enormes e amplas oportunidades.
Um segundo setor que vale a pena destacar é o da festejada construção civil.
Prefiro ficar fora das “oportunidades” de investimento para a compra de imóveis de lazer, onde os brasileiros comparam os astronômicos preços no Brasil com os locais daqui e partem para ter seu imóvel de veraneio em Miami. Morando há 16 anos aqui, já vi este filme antes, com as alegrias e tristezas da compra de um sítio em Vassouras.
O que me refiro é ao investimento em imóveis de valor baixo, para renda. Temos milhares de “sem casa”, expulsos de sua residência por causa da bolha imobiliária, que precisam arrumar um novo local para não terem de dormir na rua. Por outro lado, com a falta de linhas de financiamento e o excesso de oferta de casas e apartamentos, os preços caíram. Tanto que estão em torno da metade do custo de construção em varias regiões.
A consequência para o investidor é que a remuneração do capital investido está, em termos brutos, quase 20% ao ano, e em cerca de 12% líquidos. O que não é pouco, considerando que tem como lastro um imóvel e que os mesmo tendem subir de valor em alguns anos, pois não haverá mais imóveis disponíveis para a população que segue crescendo.
A expectativa dos especialistas do mercado é de uma valorização que pode chegar entre 50% a 100% em 5 anos. Mas, mesmo não havendo a valorização, a rentabilidade faz com que o investimento tenha sentido. Claro que há riscos envolvidos e um dever de casa deve ser feito antes das compras, o que faz todo o sentido, particularmente para os que têm imóveis no Brasil, onde basicamente já atingiram seu limite de valorização e, ademais, poucas vezes teremos um dólar tão barato, e imóveis tão em conta nos EUA.
Para não me alongar muito, destaco finalmente as oportunidades do turismo de compras e receptivo em geral. Será quase 1 milhão de brasileiros que visitarão os EUA neste ano, parte dos quais só no primeiro semestre desovaram mais de U$ 1,2 bilhão na Flórida. Há muito trabalho e recursos atrás destes números. Apesar das políticas públicas do governo e suas enormes dificuldades, o setor privado dos EUA está muito bem. Em síntese, no meu entendimento o problema americano é mais de liderança e credibilidade do que econômico.
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