Mario Aguilar, estrategista-sênior de portfólio da Janus Henderson, responde:
P – Que fatores devem ser considerados pelos investidores que veem a América Latina como uma opção em 2025?
R – Acredito que o mais importante é observar os déficits nas contas públicas, já que provavelmente eles terão um impacto significativo nas moedas locais e, portanto, nos retornos de investimentos nessas moedas. Isso deve ocorrer de forma direta ou indireta, principalmente se os investimentos dependem de itens importados cotados em dólar. Eles têm ligação direta com o dólar e as políticas implementadas pelos EUA, o que, considerando a forma como Trump faz as coisas, pode ser imprevisível. Dito isso, se Trump der prioridade ao aumento da produção dentro dos EUA, os países que exportam matérias-primas poderiam ser beneficiados. A política também deverá ser importante e, se as políticas de Javier Milei continuarem a construir uma nova Argentina, é provável que outros países da região comecem a se inclinar ou seguir nessa direção, o que poderia ser um bom presságio para a região e criaria um mercado regional maior para matérias-primas e itens acabados, mas estamos a pelo menos cinco anos de isso acontecer. Por fim, diria que o setor energético poderá ser interessante. Com alguns países ainda sem conseguir explorar novas jazidas de petróleo e gás, serão necessários investimentos nesse setor e também em outras tecnologias como biogás, energia solar e até eólica, que podem se beneficiar no médio e longo prazos.
P – Quais mercados devem ser os mais estratégicos para investimentos e quais não? Por quê?
R – Considero que o pensamento [dos investidores] deve ser de longo prazo, considerando os desafios estruturais, mas, em linhas gerais, a situação demográfica é positiva para a América Latina, o que não ocorre em lugares como a Europa, a China e o Japão. A Argentina, se continuar neste caminho de transformações, pode ser um excelente destino, mas a maioria dos ativos já foi oferecida. Eu priorizaria países com instituições fortes e a evolução de seus governos e sociedades. Como falei antes, se as políticas fiscais começarem a fazer sentido e o capital privado for respeitado, o crescimento pode voltar. Nesse aspecto, eu consideraria Chile e Brasil como destinos interessantes. O México, neste momento, é altamente dependente da política dos EUA, mas se houver maior ligação entre as cadeias de suprimentos e for mais beneficiado pelo re-shoring, pode se beneficiar no longo prazo. Outro país muito interessante, mas que passa por uma crescente influência da China, é o Peru, principalmente com grandes projetos de infraestrutura financiados pela China. Pode muito bem se tornar um hub regional de comércio mais importante, principalmente se são capazes de melhorar as ligações internas e a integração com os vizinhos.
P – Quais ativos vocês consideram mais atraentes para os investidores e por quê?
R – Os títulos das dívidas públicas continuam atraentes devido a seus altos rendimentos, mesmo com spreads mais comedidos. Considero que os mercados securitizados, principalmente aqueles dos EUA, parecem atraentes. Também penso em títulos lastrados em hipotecas (MBSs) e obrigações de empréstimos garantidos (CLOs). No que diz respeito ao mercado global de açoes, vemos retornos promissores na ampliação dos lucros, com empresas de médio porte provavelmente se beneficiando disso. É provável que as small caps também tenham uma melhora, mas isso dependerá do apetite por fusões e aquisições. Outro destino que tem uma boa avaliação e rendimentos dependendo do ponto de vista é o Reino Unido. A Europa ainda passa por dificuldades, principalmente devido às questões estruturais enfrentadas pela Alemanha e à situação fiscal na França. Observaria de perto essa situação e atuaria se as coisas ficam mais claras, já que por lá [os investimentos] estão relativamente abaixo do valor. A China tem feito muito para acelerar a sua economia, e é provável que haja oportunidades táticas em curto prazo. A longo prazo, eles precisam organizar seu mercado imobiliário, que continuará a ser afetado por uma crise demográfica iminente. Em relação aos setores, saúde e tecnologia parecem interessantes. No que se refere à tecnologia, diria que precisamos observar empresas rentáveis e também começar a pensar sobre o ritmo da adoção da IA e como ela realmente poderá ajudar as empresas a se tornarem mais eficientes.
P – Como o retorno de Donald Trump à Casa Branca afetaria o investimento internacional na América Latina?
R – Acho que precisamos considerar duas situações diferentes: as empresas diretamente ligadas aos EUA e as que não são. As empresas com relações diretas com os EUA, que dependem de insumos americanos ou vendem seus produtos para lá, podem ficar em compasso de espera se Trump impulsiona o consumo de mercadorias fabricadas nos EUA e limita exportações ou impõe tarifas de importação. Para as empresas que fazem comércio dentro da América Latina ou com outras regiões (o que está crescendo, principalmente para a Ásia, China em sua maioria), oportunidades podem se abrir para diminuir a dependência dos EUA. Nós já estamos vendo carros feitos nos EUA ou de marcas americanas serem substituídos por veículos chineses em toda a região, e isso deve continuar. No entanto, há um risco de disrupção e, se houver redução das remessas dos EUA para a América Latina, certamente as economias poderiam sofrer, impactando os investimentos. Dito isso, as produções agrícola e mineral podem brilhar na região e eu estimo um crescimento nos investimentos em infraestrutura, principalmente se eles ajudam a diminuir a dependência das importações relacionadas com os EUA.
P – Como a força ou a debilidade das moedas locais influenciará o rumo dos investimentos na América Latina em 2025?
R – Considero que o dólar mais forte está tendo um grande impacto na maioria dos países. Os déficits comercial e fiscal vão complicar a gestão macroeconômica e, se os países são forçados a elevar as suas taxas de juros, isso deverá retrair as suas economias. Um dos primeiros setores a serem afetados pela mudança na moeda poderá ser o turismo, de modo que vejo um impacto nos investimentos na área. No curto prazo, o Brasil pode se beneficiar de um real mais fraco, enquanto a Argentina deverá sofrer com uma moeda mais forte, com a convergência da cotação paralela com a oficial.
P – Como as transações em dólar ou em outras moedas fortes terão impacto no investimento em 2025?
R – Se os desequilíbrios comerciais ou subsídios distorcem a economia, provavelmente veremos uma escassez de dólares no sistema bancário e nas economias regionais. Assim, podemos ter distorções como as existentes hoje na Argentina e na Bolívia, onde as cotações paralelas são de 50% a 100% mais que o preço oficial. Isso terá um impacto severo nas importações de mercadorias em moedas fortes, e mesmo nas regionais mais estáveis, já que elas têm o dólar como referência. Nesse cenário, poderão ser observados aumentos no volume de transações em moedas locais, impulsionando os produtores locais de forma nominal, com os mesmos produtores se beneficiando das exportações. O lado escuro disso é que é uma fórmula para florescer o contrabando, o que poderia enfraquecer a situação fiscal dos países ao longo do tempo. Com esse revés, acho que os investidores deveriam ser cautelosos e considerar se devem investir no curto prazo e se beneficiar com exportadores e empresas com acesso a moedas fortes ou optar por investimentos de longo prazo ligados à infraestrutura, ou à possível recuperação econômica (que virá depois de muito sofrimento).
MERCADOCOMUM estará circulando, em dezembro, com uma edição especial impressa e outra eletrônica trazendo matérias sobre os premiados, as empresas/instituições e personalidades – destacando a relevância desta iniciativa para a economia e o desenvolvimento de Minas Gerais. Cabe, ainda ressaltar, a importância da realização desse evento, que reúne expressiva parcela formadora do PIB mineiro e obtém ampla repercussão na mídia em geral. Nesta edição especial constará o descritivo do XXVIII Ranking de Empresas Mineiras, listando-se as Maiores Empresas de Minas – em ordem alfabética, por setor econômico, receita operacional líquida, resultado, patrimônio líquido e ativos totais, entre outros.
MercadoComum, ora em seu 31º ano de circulação e em sua 336ª edição é enviado, mensalmente, a um público constituído por 121 mil pessoas formadoras de opinião em todo o país diretamente, via email e Linkedin, Whatsapp,Telegram, além de estar disponibilizado, para acesso, o seu site www.mercadocomum.com, juntamente com as suas edições anteriores.
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